Há tanta gente dentro de mim. Sou um povoado
para além do agora. E tem sido difícil lidar com as súplicas do povo que me
habita. Meu povo chora uma dor antiga e me pede socorro. Povo preto. Povo
índio. Povo caboco. Nunca foram tantos os berros de meus ancestrais percorrendo
meu sangue, meus ossos, meus órgãos. Sinto o medo de não encontrar caminho para
ser colo da minha gente. A cidade me esmaga e me sinto cansada. O pranto que
não se faz choro, deixo escoar pelo corpo. Danço a tristeza daqueles que
agonizam no sonho de que eu os escute e os honre com minha existência. Tenho medo. Mas tenho
mais fé do que medo. Sou filha de Nanã e terreiro de Eguns.
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