segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Pranto


Há tanta gente dentro de mim. Sou um povoado para além do agora. E tem sido difícil lidar com as súplicas do povo que me habita. Meu povo chora uma dor antiga e me pede socorro. Povo preto. Povo índio. Povo caboco. Nunca foram tantos os berros de meus ancestrais percorrendo meu sangue, meus ossos, meus órgãos. Sinto o medo de não encontrar caminho para ser colo da minha gente. A cidade me esmaga e me sinto cansada. O pranto que não se faz choro, deixo escoar pelo corpo. Danço a tristeza daqueles que agonizam no sonho de que eu os escute e os honre com minha existência. Tenho medo. Mas tenho mais fé do que medo. Sou filha de Nanã e terreiro de Eguns.

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