quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Centelhas


Para mim, pressuposto para sexo acontecer é cumplicidade dos corpos abertos à experiência de partilha do prazer.

(...)

Que meus amores se beijem, se toquem, se queiram... inclusive sem mim.

(...)

Se teu corpo esbarrar com o meu, não tenhas pressa em nomear o encontro. Estrangeira que sou, nunca me fez sentido definir querer bem para além de amor e paixão. Além do pedido, partilho segredo: toda safra de definições das relações que cultivo nunca me fizeram qualquer sentido. Reservo-me o direito de olhar as gentes a cada instante de um jeito. Não estranhes se um dia me perder loucamente de amores por ti. Tampouco se tua sagrada existência atiçar-me subitamente o desejo.

(...)

Posso amar na distância sem medo. Se almejas seguir, não deixes de ir.

(...)

Libertar a sexualidade é, antes de tudo, inventar o direito aos dias de celibato.

Casa de Taipa


Corpo-santuário.
No encontro com outros corpos sinto-o vibrar desejo.
Tantos são os desejos de meu corpo.
Tantos são os corpos de meu desejo.
Meu corpo é casa de encontro.
Meu corpo é terreiro e quintal.
Dancemos.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Morada

Minha mãe mora em mim.

Fora, a mulher que vejo e nomeio,
é ledo engano, estranho desejo de mãe
não aqui, mas fora de mim.

Desespero, meu ensejo e espelho.

Nela, só outra mulher
com a mãe dentro de si.

Ela: esta existência que me afeta.
Mãe: catado confuso de encantos, dores e medos que tenho dela quimera em mim.

Latência:
sopros: sentidos:
pântano encruado:

o excesso de ter sido mesmo corpo
e a ausência desse corpo que, um dia, me envolveu de toda falta e todo zelo.